Duo Dinâmico

Procuro incansavelmente no meu antigo quarto por um objecto. Curiosamente, nestas alturas em que busco qualquer coisa, acabo encontrando outras coisas esquecidas por baixo de um monte de papéis e revistas, ou num fundo de uma gaveta. Pode ser um documento que procurava há tempos (e que só se encontra quando já não é preciso), uma fotografia, uma revista, ou como desta vez, e-mails antigos de alguém muito especial, impressos e arquivados num dossier. Leio-os, não me conseguindo lembrar como chegaram até ali sob aquela forma (detestava transformar formato digital em papel). Rio-me com o passado (as private jokes, as recordações de momentos engraçados), de como éramos felizes e ingénuos, inconscientes, de como naquele tempo todos os problemas se assumiam como gigantes -- e agora à distância tudo parece mais simples --, mas também me entristeço com algumas palavras, com algumas imagens mentais que vêm à tona (e que associo cronologicamente, quase na perfeição, com estas cartas), com um disco que havia comprado no dia anterior (o melancólico Mutations, do Beck). Ambos fizemos asneiras -- tenho uma lista mental exacta, ponto por ponto, do que fiz de mal --, e embora já tenhamos pedido perdão um ao outro por diversas vezes, de tempos a tempos sinto uma espinha ainda presa na garganta que me leva a reflectir sobre os meus erros com ela e a querer pedir-lhe perdão.

Já passaram cinco anos, e bem sei que a memória tem por hábito adoçar experiências do passado, mas se me perguntassem sobre qual o período mais feliz da minha vida adulta, a resposta seria certamente aqueles quase dois anos em que estivemos juntos.

Ontem à saída do debate "Cidade, Cultura e Política(s)", dois ex-colegas de Antropologia reencontraram-se. Um perguntou ao outro:
"Vais ver o Derrida?"
Ao que o outro, sem saber de quem se tratava e não querendo dar parte fraca, respondeu:
"Esse não, o que eu queria era ver aquela cena de dança ao Museu dos Transportes."

Centro da ilha, 20 de Setembro de 2003

Na zona central, rodeado por serras imponentes, quase me esqueço que estou numa ilha no meio do Oceano Atlântico. À medida que me desloco da costa até ao centro, é impossível não reparar na variedade da paisagem -- as pastagens ondulantes onde apenas encontro algumas vacas simpáticas e ouço o vento, dão lugar a serras áridas (onde existe o Algar do Carvão e as Furnas de Enxofre, estas últimas sem muito interesse), que por sua vez, dão lugar a serras mais verdes, com densas florestas em seu redor.
(continua...)

Este blog é feito por duas pessoas muito especiais, R. e JL, em três frentes -- Coimbra, Porto e Guimarães. Para já, não me apetece muito escrever. Sendo assim, deixo a prosa para os dedos eléctricos de R., mas para compensar e dar cor a este blog, colocarei algumas fotografias que tirei nos últimos tempos.

No dia em que este blog arrancou, parti a minha caneta favorita.

E aqui começa uma longa viagem...