Duo Dinâmico

Um blog com textículos. Insultos, disparates ou festinhas na cabeça para blog_duodinamico@hotmail.com

domingo, fevereiro 29, 2004


Fernando Gil

Façam o favor de verem, hoje à noite às 22h, o programa "Outras Conversas" na SIC Notícias, onde será entrevistado o Professor Fernando Gil -- co-autor de "Impasses" (infelizmente ignorado pela imprensa portuguesa).

 


Viagem a Coimbra -- Parte II


Faculdade de Direito, Coimbra, Fevereiro 2004

 


Viagem a Coimbra


Arcos do Jardim, Coimbra, Fevereiro 2004

 
quinta-feira, fevereiro 19, 2004


A heroína a cavalo: itinerário de um uso

Gosto de coisas que, a partir do óbvio (que é tão difícil de constatar), fogem ao fácil, ao senso comum. Sempre que leio um artigo, um livro, o que seja sobre toxicodependência, encontro a mesma lenga-lenga. Estratos sociais, problemas económicos, áreas do cérebro. Ai coitadinhos dos drogadinhos. Gostaria então de chamar a vossa atenção para o livro Heroína: Lisboa como Território Psicotrópico nos Anos Noventa, o único que me parece digno de ser lido, estudado e até desmontado e simplificado para pedagogia infantil. Contrariando o modelo médico hegemónico, Luís Almeida Vasconcelos analisa o percurso de seis toxicodependentes através do (seu discurso sobre o) seu itinerário de uso. Partindo dos seus discursos, das contradições a eles inerentes e dos contextos de que dão conta, o autor mostra-nos como noções de vício, de escalada, explicações neurofisiológicas para comportamentos, etc. podem ser questionadas e analisadas de uma forma completamente diferente.
Para os interessados em comprar, a FNAC vende o livro com 10% de desconto. Fica mais barato do que comprar directamente ao ICS.

 
quarta-feira, fevereiro 18, 2004


It's the Muppet Show...

As razões podem ser muitas ou nenhumas. Ocorre que nos últimos tempos tenho tido muitas recordações de infância. Do medo da escola primária. Das reguadas nas mãos. Dos cuidados maternos. Papel de parede. Galochas. Das tardes a ver o "Agora Escolha" (What happened to Vera Roquete?) , dos fins de semana de Júlio Isidro... Eu ainda sou do tempo (onde é que eu já ouvi esta frase?) em que só havia dois canais da RTP e, em cima à direita, apareciam uns sinais ++ para indicar que algo estava a começar no outro canal.
Andava eu meia dormente de tantas sensações misturadas quando entrei no carro de uma amiga com quem tinha combinado sair um pouco. Ela olhou para mim e pediu desculpa pelo atraso. Eu fiquei colada à música no rádio do carro: "Em playback... em playback"! Carlos Paião? "Nem imaginas as coisas que tenho para aqui!" Carlos Paião, Doce, Manuela Bravo e o seu incontrornável "Sobe sobe balão sobe", a música do A-Team, Missão Impossível, todo o o tipo de músicas de desenhos animados, a Abelha Maia, o He-Man! "Sabes que cheguei a brincar com a espada do He-Man?" Confessei eu. "E eu, que tive a colecção de cromos toda!!" Respondeu a minha amiga. "Cromos eu só tive educativos, viagens, países..." Rimo-nos. "No outro dia fiz download da música do MacGyver". "Também tenho aqui!" Aí perdemos o controlo e, com o rádio em altos berros, gritámos cada pedaço da música como crianças insolentes a quem se pede para falar baixo.
Mais tarde, a conversa ficou séria. "Sabes que tenho tido muitas recordações de infância? E eu que dizia que não me lembrava de coisas de quando era pequena." A minha amiga contou-me que também andava assim. Que sonhava com uma casa de família onde já não ia desde a morte do avô. Os olhos humederam-se. Falámos um pouco sobre isso. Concordámos que a memória olfactiva é a mais terrível. O cheiro de uma planta, de um local, de um momento. Apanha-nos sempre desprevenidos e deixa-nos de rastos. Eu, a rainha da resposta tonta, principiei a alinhavar uma teoria antropológica de que embora não partilhassemos da ideia de ciclo de vida estabelecido, o facto de estarmos a chegar aos 25 anos e de vermos muita gente a casar, a ter filhos, a ter empregos e nós (uma desempregada, a outra, que mudou de curso) estávamos a recuperar passado onde nos sentíamos felizes. Uma coisa meio Fernando Pessoa. Nenhuma de nós ficou muito convencida com a teoria de que o peso cultural e social estaria envolvido no caso. No entanto, é sempre bom pôr essas coisas cá fora.
"Vais levar-me a casa? Então podemos passar pelo Penedo da Saudade? Ando com saudades de Coimbra. Está tudo em obras, a cidade está feia, está descaracterizada. Quero passar em sítios antigos." A luz da tarde iluminava tudo de uma forma belíssima. Há muito não via a cidade assim. É incrível a relação de amor-ódio que eu tenho com esta terra! Recordámos parvoíces relacionadas com cada sítio. A emoção do primeiro par de All-Star "Tu tinhas sempre coisas giras porque ias a Espanha!". As nossa memórias andavam sempre ligadas a objectos ou séries televisivas. Curioso. Uma coisa concluímos da conversa, é bom ser adulto. Tomar decisões e ser responsável por elas, fazer escolhas.
Mas também, acrescento eu agora, era bom quando adormecíamos em qualquer lado e acordavamos na cama no dia seguinte, de pijaminha. O pequeno almoço pronto e os desenhos animados na televisão. Actualmente, antes de deitar, é preciso não esquecer de tirar a maquilhagem, tomar a pílula, escrever uns mails, desligar os telemóveis, guardar os óculos ou tirar as lentes, desligar o PC, a televisão, apagar as luzes, dar uma olhadela na agenda. Ontem adormeci vestida e acordei vestida... e a armação do soutien magoava....

 
sexta-feira, fevereiro 13, 2004


Pornografia com conteúdo literário

Queria avisar os amantes do género que a Playboy (e não é este o género a que me refiro) publica na sua edição do próximo mês de Março um conto de Chuck Palahniuk (é a este género que me refiro). O conto intitula-se Guts e está a provocar desmaios um pouco por todo o lado nos Estados Unidos da América. Há até quem diga que depois de Fight Club, o escritor estará a criar um Faint Club. Encenação ou não, não sei. Mas que muitos corpos cairam no chão e muitos fluidos foram libertados nas sessões de leitura, isso está registado. Segundo consta, até ao momento em que as pessoas começaram a cair ou a vomitar, a Playboy recusou o trabalho do escritor. Acabou mais tarde por pagar mais de 17 mil dólares pela coisa. Se era truque, funcionou.
Numa recente entrevista de televisão, Palahniuk explicou a causa de uma tão forte reacção por parte das pessoas ao seu mais recente conto: "It's about different ways of how masturbation could go wrong".

 
quinta-feira, fevereiro 12, 2004


Os conteúdos constantes entre aspas não são da responsabilidade da interveniente...

Todos nós erramos com a Língua Portuguesa. Eu calculo que já terei errado várias vezes neste blog, a nível gramatical. Tendo feito esta ressalva, vou começar a falar mal. Não em termos de português, espero, mas falar mal de pessoas.
Envolvida que estou num projecto biográfico (chamemos-lhe assim para já, na altura certa revela-se), tenho de contactar empresas, orgãos de comunicação social e pessoas com formação superior. Marcação de entrevistas, acesso a material. Tudo feito de uma forma correcta. Tudo feito de uma forma formal. Por se tratar de negócios. Por tratar de assuntos com pessoas que não conheço.
No entanto, o que recebo de volta inicia-se com:
"É assim, podem contar connosco a 100%"
"Antes demais..."
Embora se tenham sempre mostrado muito solícitos: "Se podermos ajudar"; "Diz a data para nos encontrarmos por aí". Prometendo encontrar o material "que já está à muito na gaveta", mesmo quando este "caeu".
Gosto também dos cordiais cumprimentos finais:
"xau e beijinhos"

 


Trauma e Memória

Não sei se fiquei impressionada pela leitura que fazia na altura em mistura com algum episódio do MacGyver. A verdade é que tive, há cerca de uma semana, um sonho interessante. Caminhava eu com algumas pessoas (amigas e desconhecidas) pela noite escura, não sei bem a fazer o quê (nos sonhos raramente se sabe), quando fomos capturados por um bando que nos levou para um local abandonado. Parecia uma antiga adega ou uma zona para guardar coisas que ainda se encontra por baixo de algumas casas antigas, nomeadamente no Minho. As paredes eram brancas, o chão de pedra com alguma vegetação seca e solta. E um frigorífico. Segurando um saco de plástico, os raptores recolhiam pertences valiosos de cada um dos raptados. Apercebi-me que dois conversavam sobre o que iam fazer a seguir: regar tudo com gasolina, fechar as pessoas e atear fogo a tudo. Olhei para o frigorífico e principei o delinear de um plano de salvação. Ia usar o gás freon que este contém para gelar a fechadura do portão de ferro, o que me permitiria parti-la e libertar toda a gente. No entanto, mais importante do que isso, antes que o saco de plástico chegasse a mim, tirei discretamente o anel de prata que uso sempre na mão direita e deslizei-o para dentro das cuecas, onde pensei que estaria a salvo.

 

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